A viabilidade de um primeiro governo, que terá o apoio de todos os partidos de esquerda, parece ser mais do que nunca uma realidade. O que continua a ser defendido pelos apoiantes do PSD ou CDS, de que será um rompimento com a tradição, como se esta fosse um artigo constitucional, mais não é do que uma falácia.
Nunca houve tradição nenhuma relativamente a este tema, simplesmente porque forças políticas sem maioria não podem governar no Parlamento contra uma maioria. Qualquer Governo minoritário precisou sempre de uma maioria relativa de deputados que fosse viabilizando a sua ação. O facto de se falar em “tradição”, quando se quer dizer apoios parlamentares a uma minoria governativa é uma hipocrisia, uma vez que não oferece estabilidade nenhuma, apenas serve para viabilizar projetos de uma minoria governativa.
A outra ideia, muito utilizada pela “direita”, de que o PCP ou o Bloco iriam integrar o governo, ou que o acordo tem de ter a solidez para uma legislatura inteira, mais não é de que mais uma tentativa desonesta de influenciar a opinião pública sobre este acordo. É aceitável que nem o Bloco nem o PCP tenham presença governativa, uma vez que o objetivo do programa de governo não será o juntar três perspetivas tão diferentes, será um acordo entre um programa do PS afastando as medidas com as quais os outros dois partidos não concordam.
Possivelmente este governo não irá durar quatro anos, mas irá e esse é o objetivo, impedir a continuação de uma política de desastre social e económico do nosso país, evidentemente que não é uma coligação de governo, é uma união que visa impedir a destruição e o caminho seguido até aqui, com o qual nenhum destes três partidos concorda.
A verdade é que ninguém duvida que o atual governo, sem maioria, estaria inevitavelmente a prazo, iria sempre depender da vontade de viabilização do PS. A expectativa de eleições a curto prazo seria expectável, ninguém acredita realmente que fosse um governo para quatro anos, portanto a situação mantem-se exatamente a mesma, sendo que muda o caminho até aqui seguido e que mais não fez que depauperar o país.