Quando se comemora mais um aniversário do 25 de abril, são celebrados em simultâneo os 40 anos das primeiras eleições livres para eleger a Assembleia Constituinte, encarregada de redigir uma nova Lei Fundamental (Constituição), 91% de eleitores, a maioria, votou pela primeira vez na vida.
Quatro décadas depois, o desencanto leva a que a abstenção em Portugal seja das mais elevadas da europa. De facto o maior partido na atualidade é mesmo o da abstenção. Algo mudou no nosso sistema político e se parte dessa abstenção é fruto da indiferença face aos acontecimentos políticos, há também nesses números, uma percentagem de portugueses que não votam como sinal de protesto e indignação.
Muitas das pessoas que optam por não ir votar, pretendem com isso demonstrar o seu descontentamento em relação ao excesso de partidarismo montado em torno das máquinas partidárias onde, não se revêm na grande maioria nos seus representantes, que mais não são do que delegados políticos do partido e subordinados a um mandato desse partido.
Os cidadãos estão cansados do incitamento constante da Comunicação Social e da gestão do “clientelismo” da Administração Pública e, consequentemente, a extensão desta à Sociedade Civil.
É necessário crer numa democracia em todas as suas facetas e dimensões e que é urgente dar um carácter moral e instrutivo à participação democrática, faltando apostar seriamente na melhoria da qualidade da oferta de candidatos em que os eleitores possam depositar toda a sua confiança.
Não será tornando o voto obrigatório que se irá alterar alguma coisa pois, rapidamente essa abstenção se transformaria em votos brancos ou nulos. É necessário é alterar na forma o ato eleitoral, os votos deveriam ser em pessoas e não em partidos, os quais ordenam as listas conforme entendem, e isto leva a que essas pessoas não se sintam responsáveis perante quem as elege, mas somente perante o partido. Os cidadãos, independentemente de gostarem ou não de determinado candidato, vêm-no ser eleito, isto porque quer se goste ou não dele, se ocupar um dos lugares cimeiros das lista será representante dos eleitores, muitas vezes em detrimento de algum outro com quem os eleitores até se identificam mais, mas que ocupa ou últimos lugares da lista, e por isso possivelmente não será eleito.
É o sistema eleitoral que não corresponde às expetativas dos cidadãos e, enquanto assim continuar vai aumentar a abstenção, com todo o negativismo que isso representa. Em última análise porque esta pode desfigurar o princípio democrático.