Quando em janeiro Tsipras vence as eleições na Grécia, fá-lo com a promessa de recusar uma austeridade que estava a destruir a economia e a sociedade gregas.
As negociações com a Europa continuam num impasse, o aparato mediático pretende demonstrar uma posição de força equivalente entre os dois lados. O que se está a passar é essencialmente político, de um lado uma Europa que pretende impor um acordo onde não exista nenhuma cedência na ideologia da austeridade, e por outro lado um governo que pretende demonstrar que não é o caminho da austeridade a solução económica. O que está em causa é apenas uma demonstração de poder, para alimentar os defensores de uma austeridade, que poderão ver na cedência, a fragilidade da mesma.
Para a Grécia estas “negociações”, poderão significar a saída do euro com todas as consequências económicas do que isto significa, um país que, com euro ou dracma, está já numa situação tão complexa. Mas irá significar um objetivo político; a não-aceitação de uma austeridade expansionista.
A situação da Europa, com uma eventual saída da Grécia, também não ficará muito confortável. Que discurso terá o Eurogrupo depois de permitir a saída de um dos seus membros do projeto europeu? A solidariedade europeia será posta em causa, depois do abandono de um dos mais populosos países da zona euro.
Também não é possível prever se haverá ou não efeito dominó nesta saída da Grécia, algo que faz tremer o “bem comportado” governo português. E se houver, a boa vontade que parece não existir com os gregos agora, terá de surgir mais tarde, entre as economias mais frágeis da zona euro, onde Portugal se inclui. Não é por isso sensato a ostracização da Grécia, uma vez que estamos muito mais perto dela do que Passos Coelho desejaria (isto apesar dos nossos cofres estarem cheios), e possivelmente ainda vamos necessitar de algum amparo da sua parte.
O desfecho de uma possível saída da Grécia da zona euro será sempre um desastre não só para os gregos, com uma situação financeira complicada, mas essencialmente para a ideia de Europa e de quem a pensou na sua forma original.