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foto:Raghu Rai, Le Rétroviseur / Flickr

Os cinco grandes bancos nacionais tiveram um lucro de mais de 11 milhões por dia nos primeiros seis meses do ano. O economista Eugénio Rosa considera que a banca está a “espoliar depositantes e devedores”.

Os cinco grandes bancos nacionais apresentaram um lucro líquido consolidado de 1,9 mil milhões de euros no primeiro semestre do ano — cerca de 11 milhões de euros por dia.

Este resultado, catapultado pelas subidas das taxas de juro determinadas pelo Banco Central Europeu, representa um aumento de quase 60% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Numa altura em que as famílias enfrentam sérias dificuldades, que obrigaram já a banca a reestruturar mais de 62 mil créditos à habitação, os lucros recorde registados no setor estão a levantar vozes críticas.

Uma dessas vozes é a do economista Eugénio Rosa, que não tem dúvidas de que “os bancos estão a espoliar depositantes e devedores, nomeadamente os dos créditos para a habitação e PMEs”, o que “só pode conduzir o país à recessão económica e a mais pobreza”.

Em declarações ao semanário Sol, o economista critica a “teoria económica” do Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, segundo a qual “os enormes lucros dos bancos são necessários para compensar os que não tiveram nos períodos de baixas de juros”.

“É pena”, diz o antigo deputado do PCP, que Centeno não aplique aos salários a teoria de que “na média dos últimos 10 anos, os lucros são normais”.

O economista salienta que a banca não remunera cerca de metade dos depósitos, — e os que remunera “é a uma taxa muito baixa, inferior à inflação” — e estima que os depositantes tenham perdido cerca de 17 mil milhões de poder de compra.

Eugénio Rosa recorda que os certificados de aforro do Estado da categoria E, “embora dessem uma taxa de juro (3,5%) ainda inferior à inflação, no entanto reduziam a perda de poder compra das poupanças dos portugueses”.

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Em junho, o Governo mudou as regras dos certificados de aforro, tendo cancelado a Série E, lançando uma nova série F com um máximo de juro de 2,5% — uma “mudança brusca que deu muito jeito à Banca“.

“Por aqui se vê mais uma vez de que lado está o Governo, que esquece a obrigação de proteger as pequenas e médias poupanças dos portugueses. A atratividade dos certificados desapareceu”, acusa o economista.

Juros em máximos, lucros disparam

Os juros na Zona Euro têm atingido máximos históricos, desde que a guerra na Ucrânia começou e a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, já avisou que é “improvável” que o pico dos juros já tenha chegado.

Na semana passada, o BCE voltou a aumentar as taxas diretoras, e Lagarde deixou em aberto novos aumentos. “Pode ser uma subida ou uma pausa”, mas garantidamente não será um corte.

Este aumento continuado das taxas de juro tem sido o principal fator a alavancar o crescimento dos lucros dos principais bancos a operar em Portugal no primeiro semestre do ano.

Nestes primeiros seis meses, A CGD lucrou 607,9 milhões de euros, mais 25% face a junho de 2022, tendo a margem financeira crescido 124,7% para 1.316 milhões de euros.

No mesmo período, o BCP multiplicou por quase sete vezes os lucros para 423,2 milhões de euros, tendo a sua margem financeira subido 39,5% para 1.374 milhões de euros.

Novo Banco teve lucros de 373,2 milhões de euros (aumento de 39,9%), com a margem financeira a crescer 95,5% para 524 milhões de euros. Este foi o único dos grandes bancos que não apresentou resultados em conferência de imprensa.

Os lucros do Santander foram de 333,7 milhões de euros (mais 38,3%), tendo a margem financeira aumentado 58,4% para 586,5 milhões de euros, e o BPI apresentou lucros de 256,2 milhões de euros (mais 26,1%), com a margem financeira a subir 85% para 435 milhões de euros.

ZAP // Lusa

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