Com dezenas de títulos conquistados e com mais de uma centena de internacionalizações, a pivot Bebiana Sabino reconhece que as equipas portuguesas ainda não têm qualidade suficiente para competir nas grandes competições internacionais.
Simpática e de sorriso aberto, Bebiana Sabino, uma das atletas com mais títulos no andebol nacional, conversou com o iPressGlobal num fim de tarde frio, momentos antes de iniciar mais um treino semanal no clube que agora representa, o Colégio de Gaia. Durante a entrevista, Bebiana recordou o seu percurso no Andebol e projetou o futuro da modalidade.
iPressGlobal(iPG): Como surgiu a sua paixão pelo Andebol?
Bebiana Sabino(BS): Foi uma paixão que surgiu do nada, quando eu frequentava a escola primária juntaram-me com alguns colegas e levaram-nos a conhecer o clube para ver se gostávamos, mais concretamente a União Desportiva Cultural e Recreativa da Bela em Ermesinde (UDCR Bela). Como era próximo de casa acabei por ficar, foi um feliz acaso, depois fui sempre praticando gostando muito de treinar mas sobretudo da competição, e fui fazendo a minha vida ao redor do Andebol.
iPG: Já com uma longa carreira na modalidade, consegue identificar os momentos mais marcantes?
BS: O primeiro Campeonato Nacional de Juniores, porque foi o primeiro de todos, mas antes disso, foi o meu segundo encontro Nacional de Infantil, tínhamos uma mera equipa e eu não percebia muito daquilo, jogávamos por prazer, e no entanto, lá estávamos nós numa final do campeonato nacional, e embora tenhamos perdido a final foi um momento precioso e muito especial para mim, penso que foi a partir desse dia que senti que realmente gostava mesmo do Andebol.
Depois veio o Campeonato Nacional de Sénior, quando fui para o Madeira SAD, onde integrei uma equipa muito experiente e onde consegui aprender muito com atletas que passaram pela Selecção, posso citar alguns nomes como a Cristina Gomes, a Esmeralda Gouveia, e a Gabriela Gonçalves, devo muito a estas atletas, não só na aprendizagem em termos técnicos mas também em perceber o que é ter a responsabilidade de assumir um compromisso com uma equipa profissional e de saber estar num grupo.
Também a chamada à Selecção A foi um marco importante na minha carreira, lembro-me como se fosse hoje, quando fui convocada foi um grande orgulho.
iPG: E ainda houve a experiência no estrangeiro…
BS: Sim, é outro momento que me lembro como diferente e muito marcante em termos desportivos, o Campeonato Nacional Angolano, fomos campeões angolanos pelo 1º de Agosto. Lá encaram o desporto de outra forma, a cultura também é bastante diferente, gostei muito!
iPG: Mas foi no Madeira SAD que atingiu o topo da carreira?
BS: Sim, sem dúvida! Atingi o topo no Madeira SAD embora sinta que evoluí em todos os clubes por onde passei. Quando fui para a Madeira SAD eu estava no 2ºano Sénior, e foi lá que realmente atingi o expoente máximo da minha forma, mas não só, aprendi também a ver o jogo de forma diferente, aprendi a estar dentro do campo, foi lá que amadureci, e também porque era um clube que me proporcionava um semi-profissionalismo.
iPG: E depois houve o regresso a uma casa já bem conhecida, o Colégio de Gaia…
BS: Foi um regresso pensado, do ponto de vista pessoal e profissional. Terminei o curso na Madeira em Ciências do Desporto e comecei a trabalhar na universidade como investigadora, como queria fazer o doutoramento e proporcionou-se uma bolsa de investigação no Porto, fui forçada a abandonar o Madeira SAD.
Foi-me dada a possibilidade de treinar cá no Norte e de ir fazer os jogos pelo Madeira SAD, mas não concordei porque não achava correcto deixar de treinar com a equipa, porque até já tinha passado por essa experiência no passado durante um período, e apercebi-me que realmente perdia muito, ou treinava com a equipa a tempo inteiro ou então tinha que sair.
Regressei a uma casa que já conhecia e que me custou muito a deixar, quando cá chego passados estes anos todos, encontro apenas duas colegas que já conhecia, numa equipa completamente diferente e muito jovem.
iPG: Em Portugal as equipas apostam forte nas jogadoras mais novas em detrimento das mais experientes, transmitindo a ideia que a carreira de uma jogadora termina cedo, concorda com esta análise?
BS: Sim, isso acontece precisamente pela forma de como o andebol é visto e tratado em Portugal, a esmagadora maioria das equipas possuem jogadoras muito jovens, o talento pode lá estar mas penso que seria uma mais valia as equipas serem dotadas de jogadoras mais experientes, isso reflecte-se na qualidade de jogo de uma equipa.
iPG: E isso reflete-se na disputa das competições internacionais?
BS: Sem dúvida! Penso que não temos qualidade de trabalho nem intensidade de treino suficientes que nos permitam competir a nível internacional, não temos ritmo de jogo para as competições internacionais, considero o Andebol em Portugal amador, e por isso terá dificuldades em vingar lá fora.
iPG: Como projecta o futuro do Andebol feminino em Portugal?
BS: Espero bem que me lhore, mas para melhorar as jogadoras vão ter que sair de Portugal, para que nós lá fora possamos estar à altura nas competições internacionais, por isso acredito que sair é mesmo a melhor solução, temos jovens com muito talento no Andebol Feminino e que devem apostar na saída, é essencial criarmos um grupo forte com qualidade de trabalho, frequência e intensidade de treino, para nos afirmarmos e termos uma palavra a dizer nos jogos internacionais.
iPG: Face ao seu historial e aos títulos conquistados, sente-se uma atleta respeitada?
BS: Sinto-me uma atleta respeitada independentemente dos títulos que tenho, tem haver com aquilo que somos e não com aquilo que ganhamos.
iPG: Mas é uma referência para os mais jovens, ou não nunca se apercebeu disso?
BS: Sinceramente não, até porque em Portugal não temos essa cultura desportiva no andebol, os miúdos não vêm um grande jogador de andebol como vêm o Cristiano Ronaldo no futebol, isso deve-se mais uma vez à falta de impacto que o andebol feminino tem, vê-se pela falta de adesão por parte do público, onde em dias de jogo muitas das vezes temos apenas os familiares e os amigos na bancada, juntando isso à falta de promoção da modalidade na comunicação social, o resultado só pode ser negativo.
iPG: Vamos continuar a ver a Bebiana em campo por mais uns tempos?
BS: Embora me sinta em plena capacidade de continuar a jogar, de momento o andebol já não é a minha prioridade, até ao final da época estou cá e vou continuar a dar o meu máximo, depois disso logo se vê…