foto:Tiago Petinga / Lusa
A divulgação das conclusões da Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI), no âmbito do inquérito sobre a atuação da PSP nos festejos do Sporting, que foi campeão nacional de futebol após um jejum de 19 anos, deixam Eduardo Cabrita mal na fotografia (mais uma vez).
O inquérito nota que o Ministério da Administração Interna (MAI) ignorou durante 2 meses um pedido do Sporting para preparar os festejos.
Além disso, “Cabrita assinou um ofício” dando o aval à solução acordada pelo clube e pela Câmara de Lisboa para a celebração do título, apesar dos conselhos contra da Direcção Geral de Saúde (DGS) e da PSP, como aponta o Expresso, citando o inquérito.
Assim, o plano de acção da força policial só foi preparado na véspera do jogo que acabou por consagrar o Sporting como campeão nacional.
Contudo, em conferência de imprensa, o governante alegou que os festejos realizaram-se de acordo com “um modelo acordado entre o Sporting Clube de Portugal e a Câmara Municipal de Lisboa, não tendo sido aceites as propostas da PSP sobre modelos distintos, designadamente o de celebração inteiramente no interior do estádio”.
Cabrita diz que Sporting não cumpriu “orientações”
Em conferência de imprensa, o ministro comentou as conclusões do relatório, considerando que “não foram cumpridas as determinações” definidas pelo director nacional da PSP para a zona envolvente do estádio do Sporting, durante os festejos.
Cabrita referiu que deviam ter sido tomadas medidas para “salvaguarda da ordem pública”, com a “definição de um perímetro através de grades de manifestação, controlo de acessos com revistas pessoais e fiscalização do cumprimento das regras inerentes à pandemia” de covid-19, designadamente utilização de máscara e manutenção do distanciamento social.
Contudo, essas medidas não foram cumpridas e Cabrita anunciou que a IGAI vai apurar, num processo autónomo, que “circunstâncias” é que “permitiram a aglomeração de um elevado número de adeptos na zona envolvente ao estádio na tarde do dia 11 de Maio”, violando assim as “orientações definidas pelo director nacional da PSP”.
O ministro referiu que foram feitas diversas diligências junto de um “número muito variado de instituições” e notou que “todas responderam e colaboraram com a Inspeção-Geral”, com excepção do clube de Alvalade.
Sporting desmente Cabrita
O campeão nacional em título já respondeu às alegações de Cabrita, considerando que são de “extrema gravidade”.
“Não concebendo o Sporting Clube de Portugal qualquer possibilidade alternativa de tentativa de desvio de atenção ou responsabilidade sobre este, ou qualquer outro, tema da actualidade, é lamentável o profundo desconhecimento que o ministro revela dos factos sucedidos, que resultaram na transmissão à esfera pública de informações que, em nada, correspondem ao realmente sucedido”, apontam os leões em comunicado.
Na nota, o clube também frisa que o plano para os festejos do título “foi resultado de uma proposta discutida, aceite e planeada por todas as partes, sendo que, inclusive, a proposta original não surge por parte do Sporting CP”.
Os responsáveis de Alvalade asseguram que, semanas antes da conquista do título, entraram em contacto com o Ministério da Saúde e com o próprio MAI.
“Durante três semanas, o Sporting CP tentou sensibilizar o Governo para a eventualidade da conquista e consequente comemoração espontânea popular”, destaca o clube, realçando que se “prontificou a estar presente em reunião com as autoridades competentes”.
Mas só a 8 de Maio é que o Sporting CP “recebeu autorização ‘oficiosa’ do MAI para preparação dos festejos, ou seja, do cortejo dos autocarros com os jogadores, iniciando-se aí os contactos entre o Sporting CP, a PSP e a Câmara Municipal”, garante o emblema.
O Sporting aponta que acabaram por ser analisados vários cenários, nomeadamente numa reunião que contou com elementos do clube, do ministério da Saúde e da DGS, do MAI, da PSP e da Câmara de Lisboa, onde afiança que foi preparado o plano final que acabou por ser “executado”.
“Os presentes na reunião concordaram que a presença de público no estádio não era uma solução para a questão de fundo”, atira ainda o clube.
O comunicado dos leões frisa também que “não é o Sporting CP que impõe regras à DGS, PSP, MAI ou ao Governo”.
Assim, o Sporting conclui que é “lamentável e não corresponde à verdade” que Cabrita “afirme” que o clube “não respondeu a qualquer pedido de esclarecimento feito pela IGAI”.
O clube assegura que respondeu por escrito à IGAI e que “no dia 17 de Junho, o Director de Segurança do Sporting CP prestou declarações durante duas horas perante três inspectores, após convocatória do MAI no âmbito do dito inquérito”.
Ninguém esteve bem
O relatório da IGAI conclui que ninguém esteve bem no processo, considerando que o Sporting e a Câmara de Lisboa “defendiam os festejos” e que “a DGS e a PSP não”, como destaca o Expresso.
Contudo, numa reunião decisiva de 7 de Maio, com todas as partes presentes, “ninguém pareceu estar empossado de autoridade para definir uma trajectória”, conclui o relatório, segundo cita o semanário.
Dessa modo, a reunião terminou sem decisão alguma.
A IGAI também vinca que o Sporting terá sido “irredutível na decisão de promover o desfile”, apesar das reservas da DGS e da PSP.
A entidade destaca ainda que o clube de Alvalade “nunca colocou a hipótese de, simplesmente, não se realizarem quaisquer festejos fora do estádio”, conforme transcreve ainda o Expresso.
Mas a IGAI também aponta o dedo à PSP, notando que, em algumas reuniões, “não foi muito assertiva na sua posição” e que “afirmou aceitar qualquer solução para os festejos”, com a certeza de que “adaptaria o dispositivo policial ao que ficasse decidido”.
Contudo, “globalmente”, a PSP “cumpriu a sua missão” durante os festejos do Sporting, afirmou a inspectora-geral da Administração Interna, Anabela Cabral Ferreira, na conferência de imprensa de apresentação do relatório da IGAI.
A inspectora-geral vincou ainda que a PSP podia “ter agido de uma forma melhor”, mas estava perante um “quadro dificílimo”, em situação de pandemia e com “milhares de pessoas na rua”.
ZAP // Lusa