Foto: Anna Muzychuk / Facebook //
Anna Muzychuk, que detém dois títulos de campeã mundial, não vai ao campeonato mundial de xadrez que começou esta terça-feira na Arábia Saudita. A ucraniana recusa-se a vestir a abaya.
A ucraniana Anna Muzychuk, de 27 anos, Campeã Mundial de Xadrez em título, anunciou no passado sábado que não vai participar no campeonato mundial que se disputa este ano na Arábia Saudita, de 26 a 30 de dezembro.
O motivo é a abaya, a túnica tradicional que as sauditas são obrigadas a vestir quando se apresentam em público. A jovem campeã mundial recusa-se a vestir a veste femininasaudita. Num post, partilhado no seu Facebook pessoal, a campeã explicou publicamente o motivo da decisão.
“Em poucos dias vou perder dois títulos mundiais, um a um. Apenas porque decidi não ir à Arábia Saudita. Por não jogar com as regras de outros, por não usar abaya, por não ter de ir acompanhada à rua, e finalmente por não me sentir uma criatura secundária”, lê-se na publicação.
Na imagem, Anna surge com duas medalhas recebidas no ano passado. “Há um ano ganhei estes dois títulos e era a pessoa mais feliz no mundo do xadrez, mas agora sinto-me muito mal. Estou preparada para lutar pelos meus princípios e faltar a este evento, onde, em cinco dias, esperava ganhar mais do que numa dezena de competições”, escreve.
Anna pretende marcar uma posição, demonstrando as diferenças existentes nos países no que diz respeito às mulheres. “Tudo isto é irritante, mas o mais perturbador é quase ninguém se importar realmente. Este é um sentimento amargo, mas ainda não é o que vai mudar a minha opinião e os meus princípios”, refere a campeã.
A irmã de Anna, Mariya Muzychuk, seguiu-lhe os passos: tanto no desporto como também nas convicções. Ambas recusaram estar presentes no campeonato mundial de xadrez deste mês. “Estou muito feliz por partilharmos este ponto de vista. E sim, para aqueles poucos que se importam – vamos voltar!”, promete.
Em março, Anna Muzychuk participou no Campeonato Mundial Feminino que decorreu no Irão, apresentando-se de cabeça tapada. Oito meses depois, no seu Facebook, a xadrezista mostrou o seu desagrado pela localização do campeonato, novamente num país com restrição de liberdade para as mulheres.
“Tudo tem limites e os lenços da cabeça no Irão foram mais do que suficientes”, argumenta a campeã mundial de xadrez.
ZAP // Lusa