foto: José Sena Goulão / Lusa
A Galp obteve lucros sem precedentes no primeiro semestre de 2022. Estão em causa 420 milhões de euros que constituem uma subida de 153% e que levam muitos consumidores a falarem em “lucros obscenos”. Mas como se explica, afinal, esta situação? A margem de refinação é a principal causa.
Os lucros da Galp subiram 153% no primeiro semestre de 2022, em comparação com igual período de 2021, fixando-se nos 420 milhões de euros.
Estes resultados reflectem um “desempenho operacional robusto”, segundo a empresa. Mas, para os consumidores, são uma “obscenidade” e quase chocantes, conforme muitos desabafos que surgem nas redes sociais.
O valor compara com o resultado líquido de 166 milhões de euros de todo o ano passado, constituindo, assim, um aumento de 90% em relação a 2021.
Neste período, a empresa também pagou 625 milhões de euros em impostos, pelo que também há quem aponte o dedo ao Governo, pensando no dinheiro que os portugueses têm desembolsado sempre que precisam de ir às bombas de gasolina abastecer os seus carros.
O que explica os lucros “extraordinários” da Galp?
Mas o que explica este aumento sem precedentes dos lucros da Galp? Não, não são os impostos como esclarece a jornalista Helena Garrido, especializada em Economia e Finanças, no programa “Contas do dia” da Rádio Antena 1.
Garrido trata de notar o “segundo trimestre extraordinário” da empresa. Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Galp adianta, para esse período, um lucro de 265 milhões de euros, o que compara com 140 milhões de euros em termos homólogos. Trata-se de mais do dobro.
“O que está a dar dinheiro à Galp é, fundamentalmente, a produção e exploração de petróleo e gás”, considera a jornalista da Antena 1.
“As empresas têm um determinado custo relacionado com o seu investimento, se o preço do produto que vendem subir muito, obviamente que ganham mais dinheiro, já que os custos de produção não sobem de forma proporcional” e “as suas margens sobem“, continua Garrido. Mas essas margens também “descem quando o preço do petróleo está a diminuir”, acrescenta.
“Margem de refinação passou de 2,4 dólares para mais de 22”
Contudo, a ” Galp não está sozinha” no que se refere a lucros extraordinários, como vinca Helena Garrido que fala de “um salto brutal” neste âmbito em muitas companhias petrolíferas.
“Todas estão a ter lucros que são alimentados por esta subida do preço do petróleo e dos combustíveis nos mercados internacionais que tem aumentado a sua margem de refinação, a diferença entre o preço a que vendem os combustíveis e o custo do barril de petróleo”, destaca a jornalista da Antena 1.
“No caso da Galp, esta margem de refinação passou de pouco mais de 2,4 dólares por barril no segundo trimestre do ano passado para mais de 22 dólares por barril“, refere.
Assim, fica evidente que “este negócio está a dar dinheiro como não dava há mais de 25 anos“, constata a jornalista, frisando que está “a beneficiar da conjuntura, mas também de um modelo de negócio que segue uma determinada forma de contabilizar os custos de produção”.
São “as regras do mercado”
Helena Garrido trata de destacar que as boas contas da Galp são uma “boa notícia” porque todos gostamos de ter “empresas saudáveis” e porque a “Galp conseguiu reduzir a sua dívida em 28%“.
E também recorda que nem sempre a empresa, bem como as outras petrolíferas, tiveram este desempenho financeiro. Em 2020, por exemplo, durante o período de confinamento, a Galp teve prejuízos, com o preço do petróleo em negativos – “dava-se dinheiro para ficar com o petróleo”, nota a jornalista.
Helena Garrido destaca, assim, a “instabilidade” do sector e frisa que, por muito que possa parecer obsceno, a Galp tem direito aos seus lucros porque, em alturas de prejuízo, também arcou com as consequências das perdas.
Deste modo, a empresa está apenas “a seguir as regras do mercado que umas vezes lhe dão muito dinheiro e outras lhe criam muitas dificuldades”, conclui.
Quem é accionista da empresa, está “todo satisfeito” porque quando as “empresas têm mais lucros, vão distribuir mais lucros“, nota Garrido.
Mas este cenário também vai permitir à Galp ter “mais dinheiro para fazer a transição energética” e começar “a investir em energia verde e em processos que sejam menos poluentes” num dos sectores que mais contribui para a emissão de gases com efeito de estufa. E isso é uma boa notícia para o planeta – e para todos nós.
Até porque, neste momento, “o que não está a dar dinheiro à Galp é a área das Renováveis”, onde a empresa “entrou mais atrasada em Portugal”, considera ainda Helena Garrido em função das contas apresentadas pela empresa.
Susana Valente, ZAP // Lusa