O secretário-geral da Fenprof acusou hoje o primeiro-ministro de intencionalmente colocar o país “na miséria” e de ter perdido a “noção das dificuldades das pessoas”, incluindo alunos, ao sugerir que descer o salário mínimo potenciaria o emprego.
“O primeiro-ministro voltou a reiterar a sua intenção de deixar este país pobre, ou passá-lo para uma situação de miséria e indigência, quando veio dizer que não fazia mal se o salário mínimo descesse. Isto é de alguém que perdeu a noção de tudo aquilo que são as dificuldades que o país vive e que nós, professores, diariamente encontramos nas escolas, com muitos alunos que chegam com fome, que deixam de ter condições para frequentar as escolas, e que, sem qualquer apoio, são vítimas de abandono e insucesso escolar”, criticou o secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), Mário Nogueira.
O líder da Fenprof falava aos jornalistas no final da reunião de dois dias do Secretariado Nacional da estrutura sindical, que hoje terminou em Lisboa.
Na conferência de imprensa, Mário Nogueira criticou ainda a aposta do Governo no ensino profissional, dizendo que “a tentativa de transferir milhares de alunos para as vias profissionalizantes” é “uma opção de classe, de elitização do ensino e de desvalorização da aprendizagem”, assente em objetivos de poupança.
“Têm currículos menos dispendiosos e conseguem alocar os salários dos professores ao Fundo Social Europeu, e desenvencilham-se, que é disso que se trata, dos pagamentos aos professores”, afirmou, acrescentando que esta é uma opção contrária ao que tem sido o caminho europeu, dando os exemplos da Alemanha e da França, “onde o ensino dual tem vindo a perder peso e alunos”.
Em relação ao ensino superior, o dirigente da Fenprof mostrou-se muito crítico da hipótese recentemente avançada de criar propinas diferenciadas para alunos estrangeiros do ensino superior nacional, que não tenham origem nem na União Europeia, nem nos países da comunidade lusófona CPLP.
“A oferta que se faz a esses jovens é dizer-lhes para vir para cá que vão pagar mais. Isso é um apelo imenso que é feito ao ensino superior”, ironizou Mário Nogueira, sublinhando que o futuro do ensino superior em Portugal passa pela democratização do acesso, reduzindo progressivamente as propinas, e pelo reforço da ação social, para evitar o abandono por falta de condições financeiras.
“É absolutamente inadmissível que alguém num país que se diz democrático tenha que abandonar os estudos porque a sua família não tem condições. Isto significa que Portugal é um país cada vez menos democrático e o perigo de nos tornarmos numa ditadura disfarçada, que já começa a ser um bocadinho”, defendeu.
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