Inevitavelmente temos de constatar o que estes últimos anos trouxeram à educação em Portugal situações de rotura. Um governo imbuído num espirito de equilíbrio de défice e guiado pela troika, aborda a educação e os seus elementos de uma forma restritiva e desrespeitadora.
Tendo em conta que todas as decisões atingem em primeira instância os alunos que frequentam o ensino público, os primeiros a serem subtraídos ao ensino foram os docentes. Centenas de docentes que ao longo da última década se dedicavam, entre deslocações e mudanças constante de localidade, ao ensino vêm-se a mãos com a desilusão de não ter colocação. O ministério dá indicações para aumentar o número de alunos por turma, subtraindo a atenção sobre o equilíbrio entre qualidade de aprendizagem e quantidade de alunos. Pelo país, escutam-se protestos de docentes que desmotivam a cada dia, com a falta de trabalho e o aumento da burocracia dos que por lá permanecem. Subtrai-se assim a motivação dos docentes e por consequência a dos alunos.
Escutam-se igualmente protestos de pais que vêm os seus filhos, alunos com necessidades educativas especiais, perderem o apoio que necessitam para evoluir e continuarem integrados no ensino. Escolas fecham e alunos são obrigados a fazer verdadeiras maratonas até à escola mais próxima, levantando-se cedo e chegando tantas vezes à sala de aula cansados. Subtrai-se o direito à educação em condições que favorecem a aprendizagem.
No decorrer de todo este processo o parque escolar recebe alterações, constroem-se escolas integradas, criam-se mega agrupamentos e subtraem-se mais vagas para docentes, qualidade de ensino e consciência da vivência humana de que é feita a escola.
Crescem situações de agressão a docentes, os alunos subtraem o respeito pelos docentes e as situações de conflito entre alunos aumenta.
Com um ano letivo a terminar, volta-se a reorganização do parque escolar, sendo ordenado que escolas com menos de 21 alunos fechem, autarcas reclamam a não avaliação de cada situação em concreto. Fechem-se escolas com poucos alunos, algumas recentemente reformuladas, algumas que obrigarão a mais uma etapa de jovens deslocados da sua freguesia. Tendo em conta o equilibro financeiro, esta é uma atitude necessária mas não seria preferível avaliar se existem condições de transporte, condições boas nos edifícios para os quais se transferem alunos?
No final, desinveste-se na educação do país, esquecendo que quem não recebe um ensino de qualidade pouco poderá fazer pelo seu país no futuro, esquecendo que a educação molda caracteres e atitudes que poderão vir a faltar a um Portugal ao qual se e exige evolução em diversas vertentes, competitivo e competente.