A vivência extensa da tristeza provocada por deceções, incapacidade de lidar com as frustrações e descontrolo da ansiedade é já uma das epidemias da década. Conhecida como depressão, a vida perde cor, o isolamento é cada vez maior e o medo de falar sobre isso, devido ao julgamento externo é visível.
A forma como esta se manifesta em cada um varia e o modo como cada um lida com ela é também diverso, mas há certamente um ponto comum em todos os que sofrem ou já sofreram de depressão – a dor. A angústia que toma conta dos dias, o pensamento descontrolado que avoluma a impotência, a ideia de que quem tem depressão é louco é demasiado presente para impedir que se parta para um local onde tudo é negro, onde a esperança não existe e onde aparentemente ninguém viu o outro entrar.
Gosto de acreditar que quem vive uma depressão aprende mais sobre o que é o respeito pelo outro e sobre o não julgamento. A dor sentida deve ser avassaladora e ainda por cima intocável, invisível. Quem a vive parece-me que não a sabe explicar, quem nunca a sentiu terá a meu ver de se limitar a aceitar que tal como outra doença a depressão dói, provoca sofrimento e não é selecionável.
Arrepia-me a quantidade de jovens que vivem nesse estranho país da depressão. São cada vez mais os jovens a sofrer desta situação que surge em idades precoces. Se por um lado ela pode até ser tendencial, por outro lado não seria caso para pensar onde andará a falhar a forma como se encaminham os jovens para seu autoconhecimento? Que fenómeno é este que leva crianças à depressão? Como se preparam as crianças para lidar com a frustração e a tristeza? O que não se faz que os leva a não controlar as suas raivas, a não desabafar sobre as suas transformações, a acharem que estar triste é normal?
Sinceramente penso que é preciso repensar esta questão, quer a nível da prevenção, do diagnóstico e até de tratamento. Custa-me aceitar que muitas depressões são ainda tratadas recorrendo exclusivamente a medicação, apagando por instantes os sintomas e esquecendo a razão na origem. Custa-me que muitas crianças andem visivelmente envoltas num desânimo encoberto pelo efeito dominador de emoções provocado pelos medicamentos.
O país da depressão tem visivelmente muitos habitantes, parece-me que ninguém gosta de lá morar, mas muitos não sabem como de lá sair.