A entrada para o meio académico é marcada na vida de quase todos pela praxe, ato supostamente de integração dos jovens alunos ao meio institucional.
O princípio parece bom, a sua inserção guiada e acompanhada poderia ser uma mais-valia no primeiro contacto destes com a universidade, não fossem os rituais de praxe levados por outros caminhos.
A praxe é já um facto assumido em todas as universidades do país, sendo certamente diferentes em cada uma delas o princípio da integração baseada na apresentação dos espaços, normas de funcionamento das instituições e convivência com os mais velhos, não será sempre o objetivo central. De ano para ano revelam-se casos de abuso destas práticas sobre os caloiros, quantas vezes sobre o “olhar cego” das próprias instituições. As chamadas comissões de praxe desenvolvem atividades de receção ao caloiro que ultrapassam o objetivo inicial destas, passam da integração à humilhação, da parceria à submissão. O que deveriam ser dias de alegria são dias marcados por ansiedade, abatimento e até receio.
Se é certo que cada aluno pode aceitar ou não ser praxado, também é certo que variados fatores se tornam relevantes na tomada de decisão. Entre outros aspetos a incapacidade de dizer não, o discurso persuasivo dos que praxam, o receio de ser colocado de parte são variantes que pesam, muitos deles acabam por aceitar ser praxados.
Certamente haverá praxes e praxes, haverá instituições onde reside o espírito de integração e cooperação dos antigos alunos para com os novos, onde a chegada à universidade é uma diversão e onde se preza o respeito, mas esta não é a realidade mais relevantes do meio académico em Portugal.
A falta de regulamentação do ato de praxar poderá ser um fator determinante para a crescente atitude abusiva sofridas pelos “caloiros”, assim como a não supervisão e aprovação das práticas pelos órgãos institucionais do meio universitário.
Talvez este exagero e desrespeito cada vez mais evidente nas práticas de receção ao caloiro seja reflexo de uma sociedade que cada vez mais evidencia a necessidade de trabalhar a pessoa como ser humano, valorizar o desenvolver o “Eu”, fomentando o respeito, a não-violência e a capacidade de ajudar.
Será este o princípio do fim da praxe? Renascerá o verdadeiro espírito académico? A ver vamos.