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Atravessamos tempos de mudança, de transformação e oportunidades, tempos em que o tema das conversas passa inevitavelmente pela “crise” e não raras vezes esta é o motivo e a justificação fácil para se desistir de fazer planos ou sonhar.

Entre a geração dos nascidos nos anos 70 vive-se a desilusão da perda do poder de compra e a revolta de uma privação aparentemente madrasta. Salvo raras exceções, os pais desta geração nasceram no seio de famílias pobres, que ultrapassaram situações de vida menos fácil na infância, mas que à custa do seu trabalho conseguiram criar circunstâncias económicas para dar aos seus descendentes o que não tiveram.

Do nada para o tudo, passamos de um sociedade remediada para uma sociedade que descobre o poder de compra e o consumismo.

Mas a vida dá voltas e a crise surge nas agendas, talões de contas bancárias, nas mentes e até nos sonhos (neste caso pesadelos!). Algumas pessoas perdem o rendimento e quem o mantém passa a ter uma nova palavra de ordem- economizar. Para os pais da geração dos anos 70 fazer poupança é fácil, ou relativamente fácil, uma vez que cresceram muitos deles de um modo modesto e com hábitos de guardar algum dinheiro para a reforma, para os mais novos está é uma nova realidade.

Educados para TER entram num túnel de confusão e desânimo, pois sentem-se injustiçados e perdem alguma noção das oportunidades desta nova realidade.

 Ao longo da sua vida embarcaram na linha do TER, sempre possuíram o que necessitavam e o supérfluo, desde o enorme conjunto de brinquedos com os quais não chegaram a brincar, ao telemóvel, ao computador, a playstation. Ter foi muitas vezes a compensação pela falta de tempo dos pais para os acompanhar, o Ter foi muitas vezes confundido com o Ser.

Ter um curso, um carro, uma casa, uma série de bens materiais era a palavra passe para abrir a porta que os inseria num determinado grupo ou estatuto social.

E onde ficaram os valores, a noção de família, a capacidade de partilhar, a alegria das pequenas coisas, a passagem de conhecimento de geração em geração? E onde ficou a capacidade de ter noção de quem se é, do que gosta, de quem se gosta?

Não se trata aqui de criticar a forma como os pais têm vindo a educar os seus filhos, não me compete a mim fazê-lo, mas de constatar uma realidade.

Hoje muitos dos que em criança e na adolescência viveram com a realização do Ter, debatem-se com a frustração de não conseguir manter esse modo de vida, de perceber que o tipo de vida que tinham já não se coaduna com a situação atual. Há quem se adapte e descubra nesta situação a possibilidade de uma nova forma de vida, há quem passe a olhar para dentro de si e se redescubra e há aqueles que vivem em constante ansiedade, desapontados com a vida de hoje, longe de serem felizes e de aproveitarem a crise para transformarem a realidade numa vivência a seu favor.

Potencialmente o sucesso desta nova forma de vida está naqueles que percebem que este é o tempo de SER, ser único, genuíno e fiel a si e às suas convicções. É tempo de voltar às raízes, de viver em família, de dar amor em vez de prendas, de perceber que independentemente do que temos o nosso valor reside no que somos e isso nenhuma crise nos há-de tirar!

MP

Por Mara Pereira - iPressGlobal
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