É português, natural de Peso da Régua, tem 35 anos e é sem dúvida o melhor do país na arte de criar ilusão e fascínio.
Apaixonado pela magia desde os 6 anos, cedo percebeu que esta seria a sua vida. Aos 15 anos já tinha a convicção de que seria mágico de profissão e aos 22 anos, no seu segundo ano do Curso de Educação Física, criou a sua própria empresa e nunca mais parou. De carácter perfeccionista e obstinado, busca na magia o despertar dos sentidos, levando o seu público além das limitações do ser humano.
Mário Daniel apostou na magia como modo de vida, muito mais do que uma profissão é algo que lhe corre naturalmente nas veias, o que não deixa de implicar um trabalho intenso e de constante crescimento.
Ao iPressGlobal, Mário Daniel contou como surgiu a magia na sua vida, falou-nos das suas inspirações e do modo como chegou ao grande público.
iPG- Como surgiu a magia na sua vida?
M.D.- Acho que vou começar por contar como a magia entrou na minha vida enquanto espectador. Um sócio do meu pai num laboratório de análises clínicas, o Sr. Arlindo, gostava de fazer uns truques, era já um senhor com alguma idade… e eu devia ter uns 6 anos. Quando vinha da escola ficava no laboratório a fazer tempo e era aí que ele me deliciava com aquela meia dúzia de truques, acho que esses momentos marcaram muito o que mais tarde veio acontecer. Esse mais tarde é aos 12 anos quando um livro de magia me vem parar às mãos, num acaso, quando um amigo meu levou para a escola um livro quase centenário “Magia Teatral” de Martins de Oliveira, um livro muito velhinho, com aspecto de livro dos segredos. Percebi que era algo que gostava muito, procurei mais literatura sobre o assunto e fui aperfeiçoando e comecei com espetáculos mais simples, nos clubes desportivos e no hospital lá da região.
iPG- Em que altura se apercebeu que ser mágico seria a sua profissão?
M.D.– Eu sempre fui muito obstinado em tudo, envolvo-me muito a sério no sentido de fazer o melhor possível, levo as coisas de uma forma muito obcecada. Eu lembro-me que pelos 14/15 anos os meus pais estavam preocupados com os meus estudos e eu disse à minha mãe que ia tirar a licenciatura em Educação Física, uma área que gostava mas que ia viver da magia e foi o que aconteceu. Os meus pais sempre respeitaram essa minha vontade, ainda que sempre tenham continuado a incentivar os estudos. Mas na verdade nem sequer tentei trabalhar na área em que me formei, eu criei a minha empresa no segundo ano da universidade, portante já havia uma estrutura, já havia a noção de que as coisas estavam a crescer, já se via um porto seguro.

iPG- Mas qualquer pessoa pode ser mágico?
M.D.- Eu acho que sim, acho que nas artes talvez até como no desporto, tem de haver uma predisposição mas eu acredito muito no trabalho, acho que há uma percentagem de talento mas o esforço sobrepõe-se. Às vezes somos nós que colocamos barreiras na nossa cabeça ao compararmo-nos com outras pessoas que têm algum talento, esquecemos que a maior parte das vezes não é talento mas sim trabalho. Acho que a primeira coisa é acreditar que podemos chegar a qualquer sítio, se podemos ser o melhor da nossa terra, isso pode permitir que sejamos os melhores de Portugal e do resto do mundo, não devemos colocar barreiras no sonho. Depois é uma questão de trabalho, quando a nossa cabeça está 20 horas a pensar e a sonhar com as coisas, o caminho vai surgindo naturalmente.
“A magia é mais forte para um adulto culto e inteligente do que para uma criança, porque o adulto é que tem noção dos limites da realidade.”
iPG- Durante muito tempo a magia era vista como parte da actividade circense e apenas para crianças. Acha que a magia está novamente a ocupar o lugar que merece no mundo das artes?
M.D.- A magia teve no século XIX teve um destaque brutal em vários países da Europa, e eu penso que ela já voltou a ocupar um espaço importante em vários países do mundo, esta cada vez mais forte. Não sei se está relacionado com a qualidade dos mágicos ou com o que passa na televisão, mas que a magia, e pode parecer aqui a defender a “minha dama”, é uma arte completamente diferentes das outras porque nos leva para o lado do fascínio e para o lado do que não conseguimos explicar, não há dúvida. Alguém dizer que não gosta de magia não faz sentido porque a característica mais natural do ser humanos é a curiosidade e a magia leva-nos para um mundo onde algo acontece que não conseguimos explicar perante as limitações físicas do nosso planeta. Por exemplo, quando um objecto levita no nosso planeta nós sabemos que ele não levita mas ao mesmo tempo estamos a ver isso acontecer e isso levanta curiosidade. A magia é mais forte para um adulto culto e inteligente do que para uma criança, porque o adulto é que tem noção dos limites da realidade.
iPG- Após anos a trabalhar como mágico e já com uma carreira estruturada, surge na televisão com os “Minutos Mágicos”, esse foi um momento marcante para o seu percurso?
M.D.– O programa foi sem dúvida um momento chave da minha carreira, não no sentido de ser profissional, porque na altura em que o comecei a minha carreira já estava feita embora não para o grande público, agora em termos de espetáculos e trabalho já tinha uma dinâmica boa na qual me sentia bem. Para o grande público, para encher teatros, para ter uma imagem visível, a televisão fez todo o sentido.
iPG- E como surgiu este programa, ideia própria ou de terceiros?
M.D.- O projecto televisivo nasceu de uma ideia minha e do meu irmão, criamos um formato de raiz e conseguimos vende-lo a um canal, uma história quase surreal no país em que estamos em que os canais são muito dominados por meia dúzia de produtoras nacionais e internacionais, foi notável termos entrado em horário nobre, com um programa completamente produzido por nós, por mim e pela produtora do meu irmão David Mendes, a Ideias com Pernas. Hoje a Discovery vai ser distribuidora do nosso programa pelo mundo fora, vamos pegar nos programas já gravados e levá-los para outros países o que é fundamental.
“Fora do Baralho” é um espectáculo muitíssimo original, no seu conteúdo e na sua forma este espetáculos traz um novo conceito há magia.”
iPG- Como caracterizaria o seu espectáculo mais recente “Fora do Baralho”?

M.D.- O conceito do “Fora do Baralho”, e estou à vontade para dizer, é um espectáculo muitíssimo original em conteúdo e em forma, vem fazer um pouco do que veio fazer o novo circo, que foi pegar em efeitos mágicos que eram interessantes por si só, mas que se tornam muito mais interessantes quando incluídos num contexto. Uma coisa é vermos um trapezista a fazer trapézio, outra coisa é vermos trapezistas a actuar dentro de uma história. Este espetáculos traz um novo conceito há magia. Conta a história do mágico obcecado em criar um novo espectáculo que tem ao meu lado o senhor “Artur” um artesão, um senhor mais velho que é a voz da razão, que está ligado ao mágico porque foi ele que construiu o seu primeiro cavalinho de madeira, porque lhe foi apresentado pelo pai, e que na verdade representa o senhor Arlindo da minha história real, e depois temos a “Rosinha” que é empregada de limpeza do atelier, que tem o desejo de ser a assistente do mágico, mas ele está ainda tão ligado ao cliché que está à espera de uma russa bailarina que vai chegar a qualquer momento. A história baseia-se em valores morais, como valorizar as pessoas que estão tão perto e que nós muitas vezes não reconhecemos o seu talento.
iPG- Como tem sido a reacção do público?
M.D.- A reacção do público tem sido incrível. Estamos há quatro anos em digressão e temos obtido ovações de pé em 99% das salas por onde passamos. Em tantas salas cheias não temos críticas negativas e temos pessoas que já viram o espectáculo mais do que uma vez e em sítios diferentes. Modéstia a parte o espectáculo está muito bem construído, mas também houve o trabalho da encenadora Sílvia Ribeiro, do cenógrafo Tiago Magalhães que fez um trabalho extraordinário, portanto temos uma equipa fantástica e fizemos um investimento incomum neste tipo de trabalho. Tivemos quase um ano de ensaios, porque é algo tão original que tivemos de “partir muita pedra” para chegar a um equilíbrio entre o teatro e a magia.
iPG- Pode adiantar-nos quais os seus planos para o futuro?
M.D.- Neste momento passa muito por fazer “a manutenção”, tentar continuar em televisão, tenho já um projecto pensado para o efeito com um toque bastante original. Por outro lado e tendo em conta a qualidade do “Fora do Baralho”, penso internacionaliza-lo num futuro próximo, gostava muito de o levar aos Estados Unidos ou Inglaterra, tenho a certeza que ele tem mercado lá fora.
Há também a ideia de dar lhe continuidade, desta vez com uma história baseada em algo diferente… vai ser uma agradável surpresa!