foto: NATO / Flickr
Aliança vai mobilizar cerca de 90 mil soldados de todos os 31 países-membros, mais a Suécia, que está em processo de adesão. Manobras vão simular um ataque russo.
Num sinal explícito de advertência à Rússia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) anunciou a mobilização de mais de 90 mil soldados para um exercício no flanco leste da aliança, que começa na próxima semana e prolonga-se até maio.
É a primeira vez desde o fim da Guerra Fria (1947-1991) que um contingente desta magnitude é mobilizado pela aliança.
O número de soldados mobilizados é mais do que o dobro dos 40 mil originalmente previstos na operação Steadfast Defender (“defensor inabalável”, traduzindo para português), cujo objetivo autodeclarado é mostrar ao Kremlin que os 31 países da aliança e a recém-chegada Suécia, que está em processo de adesão à NATO, estão prontos para reagir de forma rápida e eficaz a uma eventual agressão do regime de Vladimir Putin.
Aliança prepara-se para conflito com a Rússia
“Estamos a preparar-nos para um conflito com a Rússia e grupos terroristas“, disse o presidente do Comité Militar da NATO, o almirante holandês Rob Bauer. “Se nos atacarem, precisamos de estar prontos.”
Neste cenário, o chamado Artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte seria invocado.
O artigo regula o compromisso de assistência mútua na aliança e determina que um ataque armado contra um ou mais membros é considerado um ataque contra todos.
Com o exercício, os membros da aliança procuram treinar principalmente a capacidade de alarmar e mobilizar tropas nacionais e internacionais, inclusive através do Atlântico. Cerca de 50 navios de guerra, 80 aeronaves e 1,1 mil veículos de combate de todos os tipos participarão das atividades.
O comandante-geral da NATO na Europa, o general Christopher Cavoli, afirmou que as tropas vão simular uma invasão russa a um dos países membros.
A área de treino estende-se da Noruega, passando pela Letónia e Lituânia — três países que fazem fronteira com a Rússia —, até países como a Polónia e a Roménia — esta última separada da Rússia pelo Mar Negro, palco de hostilidades recorrentes desde a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022.
Expansão após invasão da Ucrânia
O anúncio da NATO surge nas vésperas do aniversário da invasão russa da Ucrânia, que completará dois anos em 24 de fevereiro, e devido à intensificação dos bombardeamentos de Moscovo dirigidos a Kiev.
Um dos argumentos da Rússia para justificar a invasão era que a pretensão da Ucrânia de se juntar à NATO representava uma ameaça ao Kremlin; Kiev, por sua vez, alegava precisar da proteção da aliança diante das ameaças de Moscovo.
A adesão da Ucrânia à NATO acabou por não avançar, mas a guerra impulsionou a expansão da aliança com a chegada da Finlândia e, mais recentemente, da Suécia. Além desses dois países, a Geórgia, que se vê militarmente às voltas com a Rússia desde 2008, e a Bósnia e Herzegovina, também estão a bater à porta da NATO.
Maior exercício desde 1991
Até hoje, o maior exercício da NATO desde o fim da Guerra Fria foi realizado em 2018 e envolveu cerca de 51 mil soldados. O Trident Juncture focou-se na Noruega, que partilha uma fronteira de 198 km de extensão no extremo norte do planeta com a Rússia.
Os últimos exercícios da NATO que foram maiores do que o exercício agora planeado aconteceram antes da dissolução da União Soviética, em 1991. Na época, ainda existia a série de exercícios Return of Forces to Germany (“Retorno das Forças para a Alemanha”). Em 1988, por exemplo, cerca de 125 mil soldados participaram nesse exercício.
Já não é “se”, mas sim “quando”
De acordo com o relatório Preventing the Next War (Prevenindo a Próxima Guerra) publicado no dia 8 de novembro pelo Conselho Alemão de Relações Estrangeiras (DGAP), os Estados membros da NATO na Europa têm apenas “cinco a nove anos” para estarem “prontos para a guerra” e para um possível ataque russo ao território da aliança.
Os autores apontam que a Rússia já elevou a sua produção de armas para o nível necessário numa economia de guerra, como resultado da sua invasão contra a Ucrânia.
“Mesmo após quase dois anos de combate na Ucrânia, a capacidade de guerra da Rússia é maior do que a impressão atual sugere. As forças terrestres russas sofreram as maiores perdas em termos de pessoal e material”, diz o estudo.
A NATO está agora numa “corrida contra o tempo” para reforçar as suas forças convencionais de modo a dissuadir um possível ataque russo a Estados membros da NATO como Lituânia, Letónia e Estónia.
“A aliança já não descarta um ataque russo“, alertou um dos autores. “A questão para a NATO já não é se alguma vez precisarão de ser capazes de travar uma guerra contra outro país, mas sim quando.”
ZAP // DW