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foto: Paulo Novais / Lusa

Francisco está hoje em Fátima durante duas horas para rezar pela paz e pelo fim da guerra na Ucrânia, no âmbito da sua deslocação de cinco dias a Lisboa para presidir à Jornada Mundial da Juventude. Duzentas mil pessoas esperavam o Papa.

O Papa Francisco chegou hoje a Fátima, às 08:35, para uma visita de duas horas ao Santuário, que sobrevoou antes de aterrar.

À espera do Papa, encontravam-se duzentas mil pessoas, movidos pela fé e pela esperança de ver Francisco de perto — pessoas de vários pontos do país, que dormiram ao relento, no Santuário de Fátima, para garantirem lugar na primeira fila.

Lurdes Pereira, de 60 anos, do Carregado, no distrito de Lisboa, está em Fátima com uma amiga, numa repetição do que já tinha feito em 2017 quando Francisco visitou o Santuário de Fátima.

Dessa vez até foi pior, porque choveu, mas, quando se tem fé, nada nos demove”, disse a peregrina que vai voltar a passar a noite ao relento.

Sentada num colchão de campismo, encosta-se às baias que separam o espaço dos peregrinos da zona onde o Papa Francisco passará no sábado e confessa: “É por ele e pela Nossa senhora que cá estamos”.

A Jornada Mundial “é um acontecimento bonito, mas, Fátima é outra emoção”, explicou, acrescentando que a vontade de ver o Papa pela segunda vez “supera qualquer sacrifício”.

Bem perto das duas amigas posicionaram-se, desde as 09:00 de hoje, Maria Lucília (71) e Carlos Pereira (74), casal de Ovar, que ali está com um casal amigo.

Há seis anos passaram “duas noites e três dias” no Santuário para estarem “o mais perto possível do Papa”.

Desta vez, passarão apenas uma noite no chão do Santuário. Mas enquanto ali estiverem a marcar lugar, não faltará quase nada: bancos dobráveis para sentar, água para hidratar, fruta e sandes para alimentar e um chapéu de chuva para “fazer uma sombrinha”.

Viemos cedo, também para fugir ao controle da polícia, porque dizem que vão revistar os sacos e assim”, contou o homem, que faz questão de ver o líder da Igreja Católica “ao vivo, porque na televisão não é a mesma coisa”.

O que também diverge é o que ambos esperam que resulte da passagem de Francisco pelo Santuário. Carlos espera que “mude alguma coisa” nele próprio, que gosta “de ir ao café” contra a vontade de Lucília, que se zanga. Zanga-se também por ele “se por com estas conversas” enquanto espera a hora de ver de perto o Papa.

Mas logo acalma, até porque o seu desejo é o de que “Francisco mova montanhas e que as pessoas se entendam mais umas com as outras, porque não há confiança em ninguém”.

Olinda Mendonça, de 50 anos, e Antónia Julieta Dias, de 82, conheceram-se em junho, numa peregrinação a Fátima e hoje reencontraram-se junto ao gradeamento onde vão aguardar a chegada do Papa.

A primeira viajou de S. Pedro do Sul (Viseu) e a segunda, natural de Angola, fez a viagem desde Lisboa, onde reside e de onde se desloca todos os meses nos dias 12 e 13.

“Desta vez, como vinha o Papa, não tinha coragem de vir só nestes dias” contou, explicando que vai dormir junto às baias e, depois, ficar por Fátima até às cerimónias do 12 e 13 de agosto.

Para Antónia, “o que o Papa devia trazer era paz, o amor ao próximo, que é o que há pouco no mundo”, contrariada com “as pessoas que falam mal de Deus e do próprio Papa”.

“Não pode”, advertiu a peregrina, que em tempos esteve “de mão dada com João Paulo II em Angola”, num momento que atesta com fotografias que guarda religiosamente.

Filipe Faria, de 22 anos, e o irmão Eduardo, de 28, viajaram do Porto para, resguardados à sombra de chapéus de chuva abertos, guardarem lugares para o resto do grupo que ainda chegará.

À noite, serão 11 membros do grupo de jovens “Cristo, sentido Único”, de Penafiel, a dormir sob as estrelas, para ver o líder da Igreja.

Preferimos fugir da confusão da JMJ em Lisboa”, disse Filipe, que, ao contrário do irmão – que esteve em Madrid, Espanha –, nunca participou numa jornada.

Mas depois de ouvir as entrevistas nas quais Francisco “defendeu que a Igreja é para todos”, o jovem espera que o Papa repita essa mensagem em Fátima e em todos os locais por onde passa.

“Se não for assim, sem uma Igreja mais aberta, as pessoas acabam por sair e por se afastar”, vincaram os irmãos, convictos de que, “polémicas à parte, a JMJ levou o nome de Portugal ao mundo inteiro e chamou pessoas, até de outras religiões, para o país e para Fátima”.

A Igreja não tem portas

À chegada a Fátima, o Papa começou por dizer que “a Igreja não tem portas para que todos possam entrar” e reafirmou que é um espaço para todos. “A Capelinha onde nos encontramos constitui uma bela imagem da Igreja, acolhedora, sem portas”.

“A Igreja não tem portas para que todos possam entrar. E aqui, também, podemos insistir que todos podem entrar, porque esta é a casa da Mãe”, disse Francisco, referindo que “uma Mãe tem sempre o coração aberto, para todos os filhos, todos, todos, todos, sem exceção”.

“Amigos, quero ser claro convosco, que sois alérgicos à falsidade e à palavra vazia. Na Igreja, há espaço para todos, para todos. Na Igreja, ninguém sobra, ninguém está a mais, há espaço para todos, assim como somos”, declarou o líder da Igreja Católica, no Parque Eduardo VII.

Numa intervenção improvisada, feita em espanhol, após a recitação do terço com um mistério com a intenção pela paz, perante milhares de peregrinos, Francisco salientou que aqueles estão no santuário “como Igreja” e que a peregrinação é um traço mariano e que Maria foi a primeira a fazer uma peregrinação.

Referindo-se ao tema da JMJ, “Maria levantou-se e partiu apressadamente”, Francisco relatou momentos da vida de Maria, para dizer que “Nossa Senhora apressada e que acompanha a vida de Jesus” e, depois da sua ressurreição, os discípulos.

“Acompanha sempre, nunca é protagonista”, prosseguiu, dizendo que também “acolhe todos. E cada vez que vimos aqui recordamos isto. Maria quis este presente de uma maneira especial, para que a incredulidade de tantos corações se abrisse a Jesus”, afirmou, numa intervenção sem referências aos conflitos mundiais e à necessidade de paz.

Pedindo um momento de silêncio, para os peregrinos refletirem, no seu coração, sobre o que Nossa Senhora está a apontar com o dedo a cada um, Francisco perguntou: “O que há na minha vida que te preocupa, o que há minha vida que te comove, o que há na minha vida que te interessa?”.

“E assim abre-se o coração para que Jesus venha”, declarou, exortando os fiéis para que sintam “a presença de Maria Mãe, que aponta sempre Jesus”.

Antes de subir para o helicóptero da Força Aérea Portuguesa que o transportou de volta a Lisboa, o Papa despediu-se de uma comitiva que inclui o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa.

Francisco aterrou às 11:38 em Lisboa, onde irá presidir, no Parque Tejo, à vigília da Jornada Mundial da Juventude, a partir das 20:45.

Tenho nojo da pobreza, da pobreza dos outros?

Esta sexta-feira, ainda em Lisboa, o Papa pediu a responsáveis de instituições sócio-caritativas da Igreja que se questionem se têm nojo da pobreza, desafiando-os a sujar as mãos.

Tenho nojo da pobreza, da pobreza dos outros?“, perguntou Francisco, no encontro com representantes de centros de assistência sócio-caritativa, no Centro Social Paroquial São Vicente de Paulo, na Serafina, em Lisboa, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Improvisando na intervenção, feita em espanhol, o líder da Igreja Católica salientou a importância de concretizar a ação caritativa.

Não há amor abstrato, não existe. O amor platónico está na órbita, não está na realidade”, referiu, para destacar o “amor concreto, esse que suja as mãos“.

Francisco perguntou mesmo se, quando dão a mão a uma pessoa necessitada, doente ou marginal, a lavam de seguida, para não ficarem contagiadas.

O líder da Igreja Católica criticou depois as “vidas destiladas e inúteis que passam pela vida sem deixar marca, porque a sua vida não tem peso”.

“Mas aqui temos uma realidade que deixa marca, uma realidade de tantos anos, de tantos anos” que deixa inspiração, declarou, considerando que não poderia existir uma JMJ “sem ter em conta esta realidade”.

Segundo Francisco, “isto também é juventude no sentido em que gera vida nova continuamente”, pois ao sujarem as mãos com a miséria dos outros, os responsáveis estão a gerar inspiração e vida.

Agradecendo o trabalho das instituições sócio-caritativas da Igreja, pediu que sigam em frente e não desanimem. “E se desanimarem, tomem um copo de água e sigam em frente”, acrescentou, provocando uma gargalhada na assistência.

ZAP // Lusa

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