Foi o primeiro astronauta canadiano a fazer uma caminhada espacial e a comandar uma expedição à estação.
Apesar de reformado, continua a assumir-se como astronauta, o que decidiu ser aos nove anos, quando o homem pisou a superfície da Lua. Ser astronauta não é um emprego, é o que o define como pessoa, vincou. Hoje, dá palestras a relatar a sua experiência.
O livro autobiográfico “Guia de um astronauta para viver bem na Terra“, o primeiro que Hadfield escreveu, foi publicado em Portugal pela editora Pergaminho.
Traduzido em 21 línguas, vê-o como “um esforço” de “ser útil” às pessoas, para que percebam “algumas das ideias que tornam a vida no espaço possível”, e de que modo podem tomar diferentes decisões nas suas vidas, para que sejam “produtivas e úteis”.
No seu caso, determinou as decisões, nomeadamente a formação de base em engenharia mecânica e como piloto da aviação militar, em função de “um desafio” de vida de “longo prazo”: quis ser astronauta quando o Canadá não tinha ainda sequer uma agência espacial e a NASA, agência espacial norte-americana, só aceitava cidadãos dos Estados Unidos.
O que parecia impossível, o de participar na “aventura espacial”, tornou-se possível, tal como a chegada do homem à Lua, em 1969, que o inspirou: a oportunidade de ser astronauta surgiu quando, anos mais tarde, em 1992, foi recrutado pela agência espacial canadiana, a CSA, criada em 1989.
Teve “o privilégio” de ver o mundo a cada 92 minutos, o tempo que a Estação Espacial Internacional demora a dar uma volta à Terra. O mundo, que fazia parte “dos sonhos” dos exploradores marítimos, é agora “uma realidade que passa em hora e meia”, sublinhou.
Do espaço, Portugal atravessa-se num minuto.
A perceção que se tem habitualmente do mundo “é extremamente limitada e filtrada”, apontou, numa referência aos problemas do dia-a-dia. Do espaço, vê-se o mundo como ele é, “com as suas ‘cicatrizes’, a sua natureza, a sua idade”, advogou.
Para Hadfield, os maiores desafios na exploração do espaço serão sempre tecnológicos.
“Estamos muito limitados pela tecnologia. Mas, a seu ver, isso não é um entrave. A compreensão do nosso planeta” é o “resultado direto de riscos” assumidos pelo homem e da “superação dos desafios tecnológicos”, frisou.
A exploração espacial, sim, “vai continuar”, acentuou, porque, de outra maneira, seria “contrariar a história, a natureza humana”, que levou navegadores a percorrerem mares nunca antes navegados.
O astronauta entende que existe uma verdadeira civilização de exploradores do espaço desde 1961, ano em que o primeiro homem, o cosmonauta Iuri Gagarin, viajou para o espaço, e lembrou que o homem já aterrou na Lua, em 1969, e sai da Terra e vive permanentemente no espaço, na Estação Espacial Internacional, desde 2000.
“Inevitavelmente, vamos viver permanentemente mais longe… a Lua será a seguir”, admitiu, recordando que o satélite natural da Terra está ao alcance de “três dias de viagem”.
Chegar a Marte, para onde a NASA e a congénere europeia ESA apontam baterias, face à possível existência de sinais de vida, “vai levar algum tempo“, é uma missão “complicada, perigosa e cara”.
“Assim que provarmos que a tecnologia é suficiente, na superfície da Lua… [isso] talvez nos dê a confiança de que vale a pena viajar para tão longe quanto Marte”, defendeu.
Segundo Chris Hadfield, “é uma arrogância” pensar-se que só existe vida na Terra, perante um “número tão grande de planetas” no Universo, que “vale a pena explorar”.
“Uma das principais razões para explorar o espaço é descobrir quais são as limitações da nossa existência”, sustentou.
Ser-se astronauta implica “treinar durante décadas e memorizar tudo”.
“Aprender, compreender e lembrar”, enfatizou. É isso que, afirmou, faz a diferença entre a vida e a morte, o que está sempre em jogo numa viagem espacial.
/Lusa