Opinião Global**Por Tomás Rosa**19/12/2012
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Nem sempre a liberdade de expressão, especificadamente de imprensa, tem o uso devido. Estou-me a referir ao artigo publicado no Jornal de Angola, datado de 28 de Novembro do presente ano, e da autoria de Rui Ramos que pode consultar: http://jornaldeangola.sapo.ao/19/46/privilegiados_contra_desesperados.
Bem sabemos que não é a primeira vez que surge uma situação idêntica, sendo para mim urgente agir e tomar posição sobre temas como o racismo e a xenofobia que requerem uma análise sociológica, sensata e imparcial.
Posto isto, fiquei bastante chocado com as palavras que, umas atrás das outras descreviam, em tom sarcástico e irónico a cultura portuguesa em três momentos: uma mistura entre o povo que é pobre, miserável e racista; o povo que depois se inseriu numa comunidade europeia sob a qual passou a depender e deu meios para viver acima das suas possibilidades; e do povo que está cabisbaixo e apertado porque a “mama europeia secou”, olhando agora África como um destino onde poderá estar a solução para a falta de dinheiro nos bolsos. Paralelamente, entende-se que os portugueses sempre foram racistas e xenófobos mas, agora que estão a passar dificuldades, olhando para os países africanos com grande apreço para serem aceites, bem recebidos, tudo numa perspectiva utilitária e hipócrita. Dito isto numa concepção macro, passo para uma análise micro, indo ao pormenor do que foi dito.
Num léxico intriguista e depreciativo, Rui Ramos critica o facto de os portugueses terem saído de uma ditadura salazarista de quase 40 anos onde eram uns pobres coitados para fazerem um movimento de libertação – 25 de Abril de 1974 – com o qual veio a democracia e, mais tarde, uma entrada no Euro que nos arruinou por sermos um povo que, desde então, passou a ostentar; passou a andar pelas ruas de nariz empinado.
Para o autor, os portugueses julgavam-se a subir na vida quando começaram a receber os fundos comunitários da União Europeia (UE), mas que essa mesma escala só serviu para caírem bem lá de cima.
Acusa Portugal de estar aflito por má gestão e desperdício, e que cada um faz a cama onde se deitar; Angola está fechado à recepção destes homens que pernoitam à procura de uma solução para as suas vidas e pretendem voltar a ter o conforto e poder de compra de outros tempos por ser uma economia de potência e um país de saída deste caos vivido e preste a explodir.
Os portugueses tentam o visto para Angola – muito difícil de obter por sinal – todos os dias, em Alcântara, segundo relata, tendo em conta que de lá provêm boas propostas, as quais possuem valores que ultrapassam grandemente os salários recebidos pelos nativos, o que, à partida, gera grande descontentamento.
Quanto às discriminações face aos africanos, estas sempre existiram: desde o motorista do autocarro que não parava com o toque da menina cabo-verdiana; como o prazer de chamar o presidente da câmara municipal de Lisboa de “preto da câmara”; acusa-nos ainda de considerar os africanos “sujos” pela cor da pele.
Entretanto, a linha de pensamento passa para 2009 quando se começou a ouvir que Portugal estava em crise e devia dinheiro; a partir daí, o autor da crítica afirma que os portugueses voltaram a pôr os pés na terra e voltou o Fado que os tornava novamente o povo pobre e desmamado.
No meio de tanta liberdade prosperaram os negócios ilícitos nas feiras; nos bairros; nas entrelinhas; e a polícia nada fazia.
As notícias de que Angola poderia ser um futuro parceiro e visto como um país de emigração, foram sendo difundidas e para lá têm ido muitos portugueses nos últimos seis anos. Desde que Angola ganhou essa projecção, o autor diz que deixámos de ser racistas e xenófobos para os agradar; para sermos bem recebidos; para conseguirmos os tais vistos;
Apelida Portugal como um país “no abismo”, denotando-se em todo o texto uma carga de ódio, ressentimento e rancor tremendo, certamente na ressaca – ainda – da guerra colonial, do processo pós-colonialismo e de memórias inapagáveis que atormentam este autor que percepciona a realidade desfocadamente sem conseguir enxergar o presente.
No século XXI, o racismo e a xenofobia acontecem alhures, mas de uma forma muito disfarçada e pontual; com a globalização, as trocas de capitais, pessoas, mercadorias, as duplas-nacionalidades, os acordos, as parcerias, e toda uma comunidade CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), não faz qualquer sentido fazer uma abordagem deste género, aliás, um jornal que se preze não pode deixar impunes tais comentários depreciativos, injuriosos e totalmente desfasados da realidade.
Somos acusados de ter raiva das bichas de angolanos que chegam aos nossos país e que não nos deixam ir com tanta facilidade para a sua Terra.
Para o autor, cada pessoa nova que chega é uma cárie para a sociedade; um fardo; causa o deterioramento da mesma
Entra em considerações parciais sobre Pacheco Pereira e Ana Gomes demonstrando o seu ódio pelas elites e pelos intelectuais que vê como teóricos racistas, hegemónicos e com o rei na barriga.
A meu ver, e depois da análise do autor e da crónica, creio totalmente no sense tais comentários, porque os africanos sentem-se bem em Portugal e são apoiados com bolsas de estudo; com ajudas da Segurança Social e fazem naturalmente as suas vidas, trabalhando e tendo oportunidades iguais a todos os níveis.
Acredito que haja ressentimentos da Guerra Colonial e de todo o processo de independência dos países, mas não podemos viver sobre o passado; culpar um povo pelo que aconteceu e julga-lo por acções de pessoas que, na maioria, já faleceram.
Devemos, sim, olhar para o Mundo de uma forma aberta e com capacidade de integrar cada pessoa que está fora da sua nação.
Portugal é um país com mentalidades retrógradas e racistas com certeza, mas essa ínfima percentagem não nos pode arrastar para uma situação destas.
Espero que esta crónica vos permita ajuizar o sucedido e reflectir sobre este assunto tão importante.