FOTO: ZAP // Golejewski / EPA //
A revista semanal alemã Der Spiegel, uma das mais prestigiadas publicações europeias, demitiu esta quarta-feira um jornalista depois de descobrir que este tinha falsificado artigos, durante vários anos.
“O jornalista Claas Relotius falsificou as suas próprias histórias e inventou protagonistas, enganando leitores e os seus colegas”, admitiu esta quarta-feira a direção da revista. O jornalista, que foi demitido, confessou-se “doente”, dizendo precisar de ajuda.
A revista semanal alemã Der Spiegel, uma das mais prestigiadas publicações europeias, demitiu esta quarta-feira um jornalista depois de descobrir que este tinha falsificado artigos, durante vários anos.
“O jornalista Claas Relotius falsificou as suas próprias histórias e inventou protagonistas, enganando leitores e os seus colegas”, admitiu esta quarta-feira a direção da revista. O jornalista, que foi demitido, confessou-se “doente”, dizendo precisar de ajuda.
A revista vai conduzir uma investigação interna para apurar como foi possível a falsificação de pelo menos 14 peças da autoria do Claas Relotius, ao longo de vários anos.
No início de dezembro, Claas Relotius, de 33 anos, recebeu o prémio de Repórter do Anopor um artigo, publicado em junho, sobre jovens sírios que supostamente teriam estado na origem da guerra civil que eclodiu em 2011.
As primeiras suspeitas sobre a fiabilidade das peças de Relotius surgiram em novembro passado, com a publicação de uma reportagem sobre a situação de refugiados na fronteira entre o México e os EUA.
Confrontado com acusações de um colega com quem trabalhou para esse artigo, Relotius admitiu ter inventado citações e cenas que, na verdade, nunca testemunhara. Relotius admitiu mesmo ter usado vídeos do YouTube ou imagens do Facebook para descrever lugares, mencionados nas suas peças. Sabe-se agora que pelo menos 14 das suas peças terão sido total ou parcialmente forjadas.
Entre as peças inventadas, conta-se um artigo sobre um iemenita que passou 14 anos em Guantanamo, sem provas apresentadas, ao ponto de enlouquecer e não querer deixar a base americana no momento da sua libertação.
Noutro artigo, o repórter afirmou ter entrevistado os pais de Colin Kaepernick, um jogador de futebol americano que estava ajoelhado no chão durante o hino americano para protestar contra as desigualdades raciais. Na verdade, Relotius nunca falou com eles.
Em 2017, após a eleição de Donald Trump para a Casa Branca, Relotius foi para uma pequena cidade americana em Minnesota, Fergus Falls, para descrever o clima político e social. Para essa peça, o jornalista terá inventado um cartaz hostil aos mexicanos na entrada da cidade e, erroneamente, disse que as crianças da escola desenhavam espontaneamente o novo Presidente.
No início de 2018, escreveu em cinco páginas o retrato, que se revelou totalmente imaginário, de um defensor americano da pena de morte que, segundo o jornalista, estava presente nas execuções dos condenados.
Num longo artigo sobre este caso de falsificações em larga escala, por parte de Claas Relotius, a redação da Spiegel confessa-se “chocada” com a atuação do colega.
A publicação diz que tem um serviço de auditoria interna, mas que se resume a confirmar elementos puramente factuais, sem verificar a veracidade de citações ou de protagonistas. “Estou doente e preciso de ajuda“, argumenta Relotius, citado no artigo da revista sobre as falsificações agora confirmadas.
O jornalista, que trabalhou como freelancer para a Spiegel e outros títulos, entrou para a redação do semanário de Hamburgo há um ano e meio. Segundo a Der Spiegel, ao longo da sua passagem pela revista, Relotius produziu quase 60 artigos.
Casos semelhantes ao de Relotius têm manchado a história do jornalismo, levando à demissão de jornalistas e até à retirada de importantes prémios de reportagem. Entre os mais emblemáticos está o do jornalista americano Jayson Blair, que tinha escrito vários artigos falsos, no início do ano 2000, ou o de Janet Cooke, que em 1980 fez várias peças sobre uma criança viciada em droga, para o Washington Post, tendo de devolver o prémio Pulitzer quando se descobriu que o caso fora forjado.
O caso da Der Spiegel acontece num contexto de necessidade de credibilização do jornalismo, na era das chamadas fake news e da exposição das audiências a grandes quantidades de informação não verificada nas redes sociais.
ZAP // Lusa