Aqueles — sortudos! — que podem viajar por cidades como Viena, Berlim e Amesterdão, têm uma percepção de que os cidadãos se deslocam no seu dia-a-dia de uma maneira completamente diferente daquela que se pratica em Portugal… Há mais ciclistas do que pedestres; pais passeiam os filhos pequenos em cadeiras especiais, muito bem instaladas na retaguarda desses veículos que afinal nada têm de atrasados ou primitivos. Não parece haver ali melhor maneira de aí se ir de um lado a outro, pela rapidez, pragmatismo, conforto, ecologia, bem-estar físico e economia monetária.
Em Berlim, um bilhete de metro custa 2,40 €. O que significa isso? que a cidade tem um custo de vida elevadíssimo? Não. Eles preferem investir numa bicicleta de qualidade, que não custa mais do que 200 € em lojas que reciclam peças e velhas bicicletas deitadas ao lixo. Encontramo-las por toda a cidade moderna, como um incentivo a pedalar. Em Viena, a tendência é para as bicicletas eléctricas, boas para quem tem dificuldades físicas ou locomotoras.
Em Portugal, um senhor de fato, gravata e pasta que se ponha a caminho do emprego de bicicleta, será olhado com troça, ou incredulidade. É que os «doutores» preferem os grandes carros, que enchem a cidade de barulhos e fumos pela manhã. Preferem o stress, começando o dia a ralhar com o tipo que anda devagar; optam por um suposto «conforto», quando têm a missão de deixar os filhos na escola, quando, a partir dos 13, eles poderiam começar a usar bicicletas para distâncias curtas.
Nas tais cidades europeias, as ciclovias estão muito claramente diferenciadas e sinalizadas, e há um respeito mútuo entre todos que se põem em movimento para cumprir as suas actividades, quaisquer que sejam, desde ir às compras, pagar contas ou visitar um amigo.
Tudo isto poderia significar em Portugal uma grande evolução, que supostamente foi iniciada no governo de José Sócrates. Nas pequenas cidades como Santarém faz ainda mais sentido, mas como, se nos faltam ciclovias e lugares seguros onde deixar as bicicletas?
Durante um ano, o meu irmão Ricardo foi para o emprego de bicicleta porque o salário baixíssimo que auferia não lhe permitia pagar o autocarro, além do comboio. Mas nem uma empresa a dimensão e a responsabilidade social da Staples conseguiu providenciar uma bicicleta a um empregado que, no fundo, estava totalmente certo… E ele continuou a usar a sua bicicleta, até ao dia em que lha furtaram.
Viajar faz-nos compreender as diferenças e as semelhanças entre os países. As bilheteiras do metropolitano e as caixas ATM portuguesas estão muito à frente das que encontramos nas grandes capitais. Noutras coisas, estamos pior que eles. Em Berlim, qualquer pessoa que junte garrafas de vidro pode dirigir-se a um supermercado e trocá-las por… dinheiro, onde encontra uma máquina específica para o efeito. Qual é o resultado prático dessa ideia? Os pobres podem ajudar a limpar a cidade, separando as garrafas deitadas no lixo, e ganhando dinheiro não necessitam de pedir de porta em porta. A cidade fica mais limpa, e a reciclagem agradece.
Agora posso perceber os estrangeirados, aqueles que há muito muito tempo viajaram pelo mundo e adaptaram às suas terras o melhor que viram. Com a globalização, a internet e as redes sociais, não há motivos para não reflectirmos acerca de quaisquer soluções de modernidade e bem-estar.
Um primeiro passo, independentemente do que outros pensarão, pode ser mais fácil do que parece. Mobilizemos as nossas mentes e corpos num bom sentido. Já!!
Opinião Global**Por Tomás Rosa**23/03/2013 (de Vilnius – Lituânia) tomas_rosa8@hotmail.com