É uma doença desencadeada pela carência de vitamina C (ácido ascórbico) no organismo. Normalmente associamos o escorbuto aos marinheiros que entre os séculos XVI e XVIII, devido às longas viagens em alto mar, quase não consumiam verduras nem frutas frescas.
Ficou conhecida como a “peste do mar” ou a “peste das naus”, pois os sintomas passam pelo sangramento e inflamação nas gengivas e queda de dentes ou em fases mais avançadas pelos edemas generalizados, icterícia, febre e convulsões.
Já no século XVIII um médico inglês percebeu a relação entre o escorbuto e a má alimentação. Bastou recomendar aos pacientes o consumo de laranjas e limões para ajudar a controlar a doença.
E agora, em pleno século XXI, e com todos os conhecimentos que existem, era de esperar que o escorbuto era coisa do passado. Mas não.
“Ressuscitou” e num país desenvolvido. Segundo as autoridades de saúde, há já alguns casos registados na Austrália. A culpa é das dietas pouco variadas.
Jenny Gunton, responsável pelo Centro de Pesquisa sobre Diabetes, Obesidade e Endocrinologia do Instituto Westmead em Sydney, descobriu isso mesmo depois de verificar que as feridas dos seus pacientes não cicatrizavam.
“Quando lhes perguntava sobre a dieta que tinham, uma pessoa disse que estava a comer poucas frutas e vegetais frescos e o resto comia quantidades adequadas de vegetais, mas estava a cozinhar demais os alimentos, o que destrói a vitamina C”, disse a investigadora.
“Isso mostra que uma pessoa pode ingerir muitas calorias e mesmo assim não receber nutrientes suficientes”, acrescentou.
Penelope Jackson foi uma das pacientes diagnosticadas com a doença. “Eu não podia acreditar. Pensei: ‘espera, o escorbuto desapareceu há séculos’”, realçou ao Sydney Morning Herald.
O diagnóstico de escorbuto em 12 pacientes foi feito com base em exames de sangue e sintomas. Todos foram curados com uma simples ingestão de vitamina C.
Gunton, que publicou a sua pesquisa sobre o ressurgimento da doença na Diabetic Medicine, disse que pacientes obesos ou acima do peso também podem sofrer disto.
O artigo revelou ainda que não havia nenhum padrão social na incidência da doença e que os pacientes com dietas pobres pareciam ter origens sócio-económicas muito variadas.
“Esse resultado sugere que, apesar da grande quantidade de recomendações de dieta prontamente disponíveis para a comunidade, ainda há muitas pessoas (…) que não estão a receber as mensagens”, disse.
Como hoje em dia não se costumam fazer exames médicos para diagnosticar o escorbuto, a investigadora deixa um conselho aos profissionais. “Principalmente se os seus pacientes apresentam úlceras que não cicatrizam, facilidade para ter hematomas ou sangramento de gengivas sem causa evidente”, lembrou.