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Ernesto Trouxada sente-se mal. Já não lhe bastava o desemprego da mulher, não colocada no concurso de professores, o aumento das propinas na universidade, onde os filhos, Vanessa e Gedeão estudam, a primeira para arquitecta, o segundo para engenheiro químico, e ainda tem que suportar os pagamentos do imposto ao Estado sobre a sua actividade de merceeiro que herdou da mãe, a senhora dona Purificação.

Ernesto recorda, com azedume, o facto daqueles que, como ele, não se uniram quando foi inaugurada, ali perto, em Matosinhos, em 1985, a primeira grande superfície, a vender por grosso, e a destroçar sem dó as mercearias do pequeno comércio e de clientes certos e sempre muito fiéis. Aquilo era tremendo! De tão enorme, imenso e gigantesco, até intimidava. Era uma catedral de consumo. “Nunca tínhamos visto nada assim.”

“Era necessário estarmos unidos para que todos juntos pudéssemos fazer frente àquele obstáculo”. Foram avisados. Não ligaram nenhuma. A partir daí tudo mudara. Era impossível praticar preços mais baixos. Os pagamentos aos fornecedores eram efectuados a pronto, não perdoavam, não aceitando portanto quaisquer pagamentos espaçados, muito menos adiamentos.

Surgiu um novo obstáculo

A partir de 1 de Janeiro de 2011, a taxa normal do IVA tinha sido alterada de 21 para 23 por cento – ficaram aflitos! Assim, a redução do volume de negócios, devido, em grande parte, à quebra da actividade económica do pequeno comércio da malha urbana e à descida do consumo, produto da crise que impera, e também da desilusão dos nossos consumidores, não torna sustentável a actividade do pequeno comerciante. “Vamos-nos unir? Contra o quê? Contra o Estado? Não vemos soluções”, afirmou Ernesto ao iPressGlobal.

“Tive há dias a notícia de uma proposta do Fundo Monetário Internacional que consiste no fim da taxa mínima, que é de 6 por cento, a a descida da taxa normal, que está em 23 por cento. Só que, assim, alguns produtos básicos podem vir a subir de preço. Imaginam o aumento do preço do leite, farinhas, arroz e outros produtos que são, muito bem considerados essenciais para a alimentação dos portugueses? Estão a imaginar?”, acrescentou a mesma fonte, sublinhando que “em face desta perspectiva, eu penso que o Estado não está apenas contra nós – está a prejudicar, e muito, a vida dos cidadãos”. “Estamos, e vamos ficar, ainda mais, pelas ruas da amargura. Não sei mesmo o que fazer. A minha mulher, os meus filhos…”.

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