Foto: Ney Rubens/Especial Terra
O advogado Lúcio Adolfo não gostou da declaração do promotor, que negou ter feito acordo para que Macarrão confessasse sozinho a autoria do crime.
O advogado Lúcio Adolfo, que defende o guarda-redes Bruno, chamou nesta quinta-feira de “mentiroso e traíra” o promotor de Justiça Henry Wagner Vasconcelos Castro após o representante do Ministério Público ter negado qualquer acordo com o réu Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, para que ele confessasse que Eliza Samudio foi morta, como aconteceu na madrugada de hoje.
“Ele está dizendo que não houve o acordo porque é traíra e não quer agora cumprir o combinado (supostamente pedir uma pena menor para Macarrão). E ele é um grande mentiroso, porque o advogado do Macarrão, Leonardo Diniz, me confirmou essa informação. Eu já conheço esse promotor, tido para a vaidade. Eu o conheço desde os tempos que atuava em Montes Claros (norte de Minas Gerais) e que ele usava desse expediente da barganha para acusar”, denunciou Adolfo.
O promotor, no entanto, disse que “a confissão de Macarrão só beneficia a ele, Macarrão, que terá redução como a lei manda”. “Eu não precisava da confissão do réu para provar a tese da acusação” disse. “Esse advogado entrou no plenário para interrogar a ré Fernanda e veio questioná-la se a promotoria havia oferecido a ela algum acordo. Um advogado mais perdido que saco de pão vazio ao vento”, cutucou Castro. Em entrevista anterior, o promotor já havia chamado os advogados do caso, incluindo Adolfo, de “arremedo”.
O promotor aproveitou para atacar ainda o advogado Ércio Quaresma, que defende o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Castro afirmou que foi Quaresma “quem orientou a todos os réus para que mentissem” durante as investigações feitas pela polícia. Durante o depoimento, Fernanda Gomes Castro revelou que foi o advogado quem a aconselhou que participasse do programa Mais Você, da Rede Globo, em julho de 2010. “As declarações que dei naquele programa me prejudicaram muito”, reclamou Fernanda.
O caso Bruno
Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola seriam levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores. No dia 19 de novembro de 2012, foi dado início ao julgamento de Bruno, Bola, macarrão, Dayanne e Fernanda.
FONTE: TERRA