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A escassez de água provocada pela falta de chuvas deste ano e pela ausência de políticas de preservação no sudeste brasileiro está a provocar um conflito político entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Com a crise no sistema de represas Cantareira, responsável pelo abastecimento de 15 milhões de pessoas, mais de oito milhões na região metropolitana de São Paulo, o Estado anunciou uma proposta de transpor cinco mil litros de água do rio Paraíba do Sul para um de seus reservatórios. No entanto, essa decisão foi logo polémica porque o Paraíba do Sul fornece água para 10 milhões de pessoas na região metropolitana do Rio de Janeiro.

O impasse pode parar no Supremo Tribunal Federal brasileiro, a mais alta instância judiciária do país, já que, na última quinta-feira, a Justiça Federal no Rio de Janeiro informou ser incompetente para julgar o caso, por se tratar de um conflito que envolve mais de um Estado. Enquanto isso, jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo noticiam que já há falta água nas torneiras de moradores de algumas regiões dos dois Estados.

A esse contexto se soma o fato de este ser um ano de eleições tanto para presidente como para governadores, o que torna a questão da água essencial para as campanhas políticas. O especialista em recursos hídricos Samuel Barrêto afirmou que a falta de água é causada por uma série de fatores, e que as crises e disputas políticas são “o pior cenário” possível.

“Se todo mundo usa bem o recurso, está poupando. [A escassez] Já passou do limite, e temos de reverter esse cenário”, afirmou Barrêto, coordenador do Movimento Água para São Paulo, vinculado à organização “The Nature Conservancy” (TNC), que procura soluções para desafios de conservação ambiental em 35 países. Segundo Barrêto, 2014 é um ano de secas históricas no sistema Cantareira, mas a escassez de água também é resultado da concentração populacional, da contaminação dos mananciais, do desmatamento e das perdas de água durante a distribuição, tanto por ineficácia como por roubo de água.

A região metropolitana de São Paulo, que possui mais de 20 milhões de habitantes, tem uma procura de água 4% acima da sua capacidade de oferta, afirma o especialista. Em dez anos, essa diferença pode subir para 15%.

Barreto defende que o tratamento da água privilegie não só as obras de engenharia, mas também combata o desperdício e a recupere os reservatórios. O Movimento Água para São Paulo está a captar investimentos para recuperar uma área equivalente a 14 mil campos de futebol, com projetos de diminuição do assoreamento de sedimentos nos rios, recomposição florestal e manejo de solo.

Hendrik Mansur, especialista em conservação na TNC no Rio de Janeiro realçou que é necessário trabalhar em soluções de curto prazo, com a gestão da água feita pelos comitês ambientais, e de longo prazo, com o fortalecimento de políticas públicas.

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