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foto: geoff_mv / Flickr

Cerca de 3,5 milhões de mulheres (65,5%) e 4,3 milhões de homens (85,9%) em Portugal apresentam uma ingestão de sódio acima do nível tolerado, segundo indica o Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF), apresentado esta quinta-feira no Porto.

O sódio é “um dos nutrientes para os quais se estimou maior inadequação“, tendo-se verificado “o importante contributo de alimentos como o pão, os produtos de charcutaria e a sopa” para esse elevado consumo, explicou à Lusa a investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Carla Lopes.

Este é um dos resultados do IAN-AF, projeto liderado pela Universidade do Porto (UP) que, ao longo de um ano, avaliou mais de 6.500 pessoas, com idades compreendidas entre os três meses e os 84 anos, em todas as regiões do país.

No inquérito foi avaliado o consumo alimentar da população portuguesa, incluindo os tipos de alimentos consumidos, os nutrientes, os suplementos alimentares e nutricionais e outros comportamentos de risco, os níveis de insegurança alimentar e de atividade física, tendo a recolha de dados decorrido entre outubro de 2015 e setembro de 2016.

Outra das conclusões indica que “o consumo de carne vermelha, associado a risco de cancro do cólon (mais de 100 gramas por dia), é realizado por mais de 3,5 milhões de portugueses (34% da população)”, referiu Carla Lopes, também investigadora do Instituto de Saúde Pública do Porto da Universidade do Porto (ISPUP), envolvido no projeto.

Segundo indica, um em cada dois indivíduos não consome a quantidade de fruta e produtos hortícolas recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o que aumenta a probabilidade de inadequação de nutrientes, como a fibra, e de micronutrientes, como o folato, o potássio e o cálcio.

O consumo elevado de álcool foi também verificado neste inquérito, em particular nos idosos, registando-se em 5% desse grupo a ingestão de um litro de bebida alcoólica por dia, sendo o vinho o produto mais frequentemente consumido.

Na população com mais de 15 anos, 5,4% das mulheres e 24,3% dos homens “consome álcool excessivamente”, alerta a investigadora, que vê a ingestão de açúcares acima das recomendações (15% da população, número que aumenta para 31% nos adolescentes) como outro dos resultados mais preocupantes.

De acordo com a coordenadora do IAN-AF, o nível de atividade física registado “é baixo” e “apenas em 27% da população os indivíduos com mais de 15 anos foram considerados fisicamente ativos”, o que equivale à prática de uma hora ou mais de atividades moderadas por dia ou 30 minutos de atividade vigorosa.

Nos jovens entre os 15 e os 21 anos “é relevante a diferença entre os sexos”, havendo 50% ativos no sexo masculino e apenas 20% no sexo feminino, estando as regiões de Lisboa, Alentejo e Algarve associadas a um maior grau de sedentarismo.

Dada a baixa prevalência de indivíduos classificados como fisicamente ativos, as medidas a implementar devem considerar “não apenas o aumento das atividades de lazer e desportivas mas uma mudança de hábitos no dia-a-dia” da população, salientou Carla Lopes.

Segundo a investigadora, o primeiro inquérito alimentar nacional foi em 1980. Este realizado agora, que inclui de forma inédita todas as regiões de Portugal continental e ilhas, “vem não só cobrir a falta de informação de indicadores de saúde nestas áreas de avaliação”, mas também “permitir a sua comparação com países europeus”.

O IAN-AF é apresentado esta quinta-feira, na Reitoria da Universidade do Porto (UP), num evento que inclui um debate sobre a importância dos resultados para a definição de políticas públicas.

Este projeto, no qual participaram 15 investigadores e mais de 60 colaboradores, foi desenvolvido por um consórcio liderado pela UP, com o contributo das faculdades de Medicina, de Ciências da Nutrição e Alimentação e de Desporto, bem como do ISPUP.

Envolveu ainda o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, as faculdades de Medicina e de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, a Faculdade de Medicina da Universidade de Oslo (Noruega) e a empresa SilicoLife, tendo sido financiado pelo programa EEAGrants – Iniciativas em Saúde Pública.

Os resultados do inquérito nacional vão ser apresentados também em Lisboa, na sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian.

// Lusa

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