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O ministro da educação, Nuno Crato, tinha por missão, como ele próprio dizia, exterminar o facilitismo e munir a escola de uma política de rigor e exigência. Encontrou na Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades, o meio para obrigar os professores a comprovar se estariam ou não aptos a entrar na carreira.

Através desta prova, os professores fariam uma avaliação geral, comum a todos, e outra mais específica sobre a componente científica de cada um, a que avaliaria os conhecimentos disciplinares necessários para a realização do seu trabalho. Após a polémica lançada, a prova ficou-se apenas pela avaliação geral, deixando cair a componente específica, num género de teste psicotécnico para professores. Esta prova também deixou de ser para todos os professores contratados, a primeira ideia deste ministro, e passou a ser apenas para aqueles que têm cinco ou menos anos de serviço. Nuno Crato parece desconhecer que:

1º Os professores são avaliados nas suas respetivas instituições de ensino não só na componente científica, mas também na componente pedagógica.

2º Quem quer iniciar uma carreira na escola pública tem um ano de estágio, acompanhado por um professor titular da área que irá lecionar e será avaliado por este.

3º Ter cinco anos de serviço, corresponde na maioria dos casos a ter efetivamente sete, oito, ou mais, uma vez que na grande generalidade os professores contratados em início de carreira, têm durante muitos anos horários incompletos.

4º Para grande parte destes professores a prova, que serviria para dar acesso à carreira, é uma falácia, uma vez que não existirá carreira nos próximos anos para nenhum destes professores, mas apenas o desemprego.

5º O “rigor” que o ministro quer implementar, não será evidenciado numa prova de componente geral, que não avalia nada a não ser algum raciocínio lógico, realizável por qualquer aluno de 9ºano.

O ministro Nuno Crato quer através desta vergonhosa prova mostrar quem manda, mostrar que na sua atitude de intransigência, os professores terão que se sujeitar aos seus caprichos porque a avaliação feita por uma instituição universitária regulada pelo Estado não é suficiente.

Fica-nos assim a ideia de que o principal objetivo será não tanto a prova, mas um meio para se poder excluir, o que é ou não avaliado, será o que menos interessa.

Outo tema deste ministério, refere-se aos cortes que irão ser implementados no ensino superior.

Nuno Crato decidiu acabar agora com os dois únicos centros de investigação de Estudos Clássicos do país. A maioria dos projetos destes centros, dos quais fazem parte académicos como Frederico Lourenço, que traduziu, entre outras obras, a “Ilíada” e a “Odisseia”, ou Maria Helena da Rocha Pereira (investigadores em Coimbra), fazem as traduções do grego e do latim, que a ficar pelo caminho comprometem outras áreas de investigação, como a filosofia ou a história da ciência, em que é preciso ter acesso a textos antigos escritos por matemáticos e físicos. Em Lisboa, alguns projetos que poderão sucumbir consistem em publicar textos de mulheres que escreveram em latim em Portugal no século XVI ou, por exemplo, identificar, transcrever, traduzir e publicar manuscritos inéditos de missionários portugueses na China e em Goa.

A Antiguidade Clássica certamente não é rentável, isso já sabemos, e o estudo do passado não é importante para este governo, pois não representa crescimento económico, nem é capaz de combater o défice.

A cegueira deste governo vai mais longe, o desinvestimento feito na investigação vai levar a que se fechem, não só os centros de investigação de estudos clássicos, mas mais também a um corte nas ciências sociais, independentemente do seu desempenho.

A avaliação realizada pela Fundação para a Ciência e Tenologia (FCT), classifica estes centros com Bom (o que terá consequências a nível do orçamento atribuído), quando sempre tiveram excelente. Esta avaliação foi atribuída sem nunca os avaliadores se terem deslocado a nenhum destes centros de investigação, toda a apreciação foi feita unicamente com base em documentos.

Por exemplo, causou perplexidade aos avaliadores, terem afirmado que as temáticas das desigualdades e das imigrações são temas “esgotados”, tanto em Portugal como na Europa, quando são considerados temas centrais atualmente.

O financiamento a investigadores em doutoramento é para ser extinto, bem como o encerramento de unidades de investigação, e este desmantelamento, que tantos anos demorou a sedimentar, feito às cegas, só pode significar uma coisa que não é útil quem investiga o poder a esses é urgente calar.

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